Descobri que já existe na vida real uma máquina do tempo, tão sonhada nas histórias de ficção científica.
Uma máquina capaz de fazer o tempo parar para quem a usa, enquanto o tempo passa para os outros.
As demais pessoas "normais" envelhecem, se enervam, e se estressam à medida que o tempo passa, enquanto as "privilegiadas" se acalmam, se reenergizam e ganham mais tempo de vida...
Essa Máquina real do Tempo é "um computador ligado na internet com um jogo online, amigos no chat e downloads intermináveis", em geral nas mãos de um adolescente.
É IN-CRÍ-VEL!
Não importa o quanto você os chame :
- "Vamos logo, temos que sair, já estamos atrasados!",
- "Sai já daí, vai tomar seu banho AGORA!",
- "Desliga este troço JÁ, vai dormir, você tem que levantar bem cedo amanhã/hoje!"...
As respostas são sempre as mesmas (também) :
- "Só mais 'um minuto', já to fechando e saindo.",
- "Já vai, já vai... Tá terminando o download.",
- "Peraí, deixa eu só chegar nessa fase, senão eu perco tudo!"...
Você perde a paciência e se irrita, enquanto eles estão animados e alheios às preocupações que nos desgastam...
O tempo passa, e muito rápido, só pra você. Para eles, não, nem quando "morrem" (ganham outra vida, infinitas vezes, pois entram com códigos/cheats para ficarem imunes à vulnerabilidades).
A promessa de vida eterna da Fonte da Juventude foi inventada, funciona à eletricidade e flui em banda larga: é a tal "Máquina do Tempo"... do tempo virtual, cibernético e internauta!
quarta-feira, 28 de abril de 2010
A máquina do tempo
terça-feira, 27 de abril de 2010
Divirta-se!
"Se começar a fingir que se diverte,
quem sabe não acaba se divertindo mesmo?!"
Alfred Pennyworth (do filme Batman Begins)
sábado, 24 de abril de 2010
Desbravadores Admiráveis (5)
União Ibérica e a Expansão do Brasil
Ao saber de uma história como a de Álvar Nuñez Cabeza de Vaca e de suas andanças pelo nosso continente, pode se incomodar com a idéia de uma armada espanhola ficar andando livremente pelo "Brasil Português" e pensar que isto se deu na época na União Ibérica, período em que a Coroa Portuguesa ficou sem sucessor real e ficou sob jugo da Coroa Espanhola, pouco depois do Descobrimento do Brasil... e que, graças a Deus, Portugal se ergueu anos depois e acabou com essa tirania...
Não, isto NÃO foi durante a União Ibérica. Espanha incorporou Portugal entre 1580 a 1640. Álvar Nuñez Cabeza de Vaca esteve na América do Norte entre 1527 e 1535, e na América do Sul entre 1541 a 1545.
E nessa época, o tal "Brasil Português" ficava a leste da controvertida linha demarcatória do Tratado de Tordesilhas (de 1494), e na prática se estendia só até o conhecido porto de Cananéia-SP (os portugueses achavam que ia até Laguna-SC; os espanhóis pensavam que era em Iguape-SP). Tanto que, quando a armada de Cabeza de Vaca chegou ao neste porto em 1541, tomou posse em nome da Espanha.
Além disto, além do litoral, era terra de ninguém, era o SERTÃO, como chamavam todo o restante, não havia nem Brasil Português nem Brasil Espanhol... Era de quem chegasse primeiro (obviamente a despeito dos índios, que já estavam lá, e que não se consideravam "donos" da terra, por questões culturais). Eu mencionei Santa Catarina, Paraná, Paraguai, Mato Grosso só para nos localizarmos com referências atuais, mas na época, eles nem sabiam onde estavam. (rsrs)
Agora, quanto à suposta "tirania" imposta pela União Ibérica, na verdade foi o contrário. Graças à fusão entre as duas Coroas, houve um relaxamento da acirrada disputa por territórios (afinal, agora era tudo do mesmo dono! rsrs).
Justamente durante essa época, os Bandeirantes, esses admiráveis desbravadores, adentraram pelo sertão e expandiram o território brasileiro conhecido. Os jesuítas se encarregavam de estabelecer escolas e unidade cultural.
Quando Portugal se libertou do domínio espanhol, voltaram os desentendimentos também pela soberania sobre os territórios, digamos, do Brasil Português versus Brasil Espanhol, e isto só foi normalizado com o Tratado de Madri (de 1750). Foi aplicado o princípio do direito privado romano do "uti possidetis, ita possideatis", isto é, "quem possui de fato, deve possuir de direito". Ou seja, onde as Bandeiras e Entradas deixaram rastros, passou a ser Português (imagino que a Coroa Espanhola não tinha idéia do prejuízo que tomou nesse acordo).
E eu, particularmente, deprecio o que Portugal fez depois disto. Mas reconheço que teve lá suas razões... Para se recuperar, passou a ser mais tirânico com suas colônias, o Brasil sobretudo. Vetou todo tipo de desenvolvimento local para que aqui fosse puramente fonte exploratória.
Marquês de Pombal, primeiro-ministro que assumiu o governo de Portugal de 1750 a 1777, decretou a expulsão dos Jesuítas do Brasil em 1759, e com isto fechou as escolas por todo país, que ensinavam em Brasílica para o povo.
A língua geral normalizada pelos Jesuítas a partir do Tupinambá (ou Tupi Antigo), e que por similaridade era falado de costa a costa (e no interior) de todo o Brasil, era também a língua materna dos Bandeirantes Paulistas (ver comparação de sua concepção romântica versus histórica, no quadro acima, tendo Jorge Velho como exemplo), que batizaram localidades com nomes Tupi até onde esse idioma nem era falado pelos índios nativos.
Assim, o que era "nossa" língua legitimamente brasileira por mais de 250 anos, passou a ser marginalizada, graças ao poderoso e tirânico Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo), que conseguiu assim "ressuscitar" a língua portuguesa e torná-la nosso idioma oficial por todo o Brasil.
O que sempre me deixou revoltado foi nunca ter aprendido ou ouvido isto nas aulas de História nas escolas... Duzentos e cinqüenta anos de tradição lingüística nacional, simplesmente ignorada! Inaceitável, mesmo considerando o período "nacionalista" do regime militar nas décadas de 60 e 70... O que sei sobre isto, e aqui compartilho com vocês, foi "redescoberto" muito tempo depois, garimpando livros e dicionários de Tupi, por conta própria, um hobby. Ainda bem que hoje em dia existem Wikipédias para os internautas da vida! (rsrs)
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Desbravadores Admiráveis (4)
Cabeza de Vaca – Pelo Pantanal e Prisioneiro
Vindo desde o litoral de Santa Catarina no Oceano Atlântico em direção ao Oeste, caminhando a pé (e descalço, como gostava de andar, conta-se) e acompanhado de outros espanhóis que compunham sua expedição que partiu da Europa em novembro de 1540, Álvar Nuñez Cabeza de Vaca foi parando de aldeia em aldeia de cada tribo Guarani que encontrava nessa travessia pelo interior do Brasil rumo ao Paraguai. Com um carisma incomum entre os estrangeiros, ia colecionando a simpatia dos índios, iam ouvindo suas histórias e firmando aliados locais.
Foi um dos primeiros homens brancos a se maravilhar da beleza e magnitude das Cataratas da Foz do Iguaçu, palavra do tupi-guarani que quer dizer "Água + Grande" (="yg"+"assu"), ou seja, muita água mesmo, abundante.
Eu acredito que, ao chegar nesta etapa de sua empreitada, Cabeza de Vaca pode ter mudado de estratégia e adiado seus planos iniciais. Evidentemente ele desejava ser o primeiro explorador a encontrar riquezas por aquele sertão, não só pela fama como também pelo quinhão que receberia de tudo o que fosse achado... Para isto ele financiou sua expedição e havia sido nomeado Governador pelo Conselho das Índias espanhol depois da morte de Pedro de Mendonza, o primeiro Governador do Rio da Prata.
Mas quando ficou sabendo que Juan de Ayolas, substituto provisório de Mendonça e a quem devia se apresentar como novo Adiantado nomeado, estava "desaparecido" e que Domingo de Irala se autoproclamou sucessor de Mendonça, e que comandava com violência e tirania antes Buenos Aires e depois Assunção, Álvar Nuñez pode ter decidido não confrontar o valentão ganancioso de poder desde que ainda estava no litoral brasileiro, e ter optado em partir para terra adentro já em busca de seu rico propósito primeiro.
Como Peabiru passava não longe de Assunção, e contando com o apoio dos caciques que encontrou pelo caminho e que sempre o receberam com simpatia, e ainda assumindo que ao se aproximar do povoado de colonizadores ele tenha obtido informações recentes do que estava acontecendo por lá, imagino que tenha se passado pela cabeça de Cabeza de Vaca o seguinte: "Irala escraviza índios vizinhos e oprime os habitantes, está prestes a sair em busca de prata e ouro; se isto acontecer, o povoado abandonado sem proteção sucumbirá, e ele poderia chegar primeiro às 'Montanhas de Prata' e conquistar o tal 'Rei Branco' antes e ser redimido pela Espanha... Não seria justo."
Não sei se foi isto que ele pensou, mas foi isto que aconteceu. Escreveu e mandou avisar Domingo que o novo Governador estava acampado próximo e que ia chegar. Isto abortou a Expedição de Irala (imagine só a ira dele!). Chegou e assumiu o controle do povoado: impôs igualdade de tratamento entre índios e habitantes, apazigou a animosidade das tribos que os cercavam, e transformou-os em aliados.
Quando estava tudo aparentemente calmo e harmonizado, Cabeza de Vaca organizou sua própria expedição, e partiu rumo ao norte atrás de riquezas. Mas ao mesmo tempo que administrava de forma humanitária e pacificava a região, colecionava também alguns inimigos internos. Mal deixou a cidade, Domingo de Irala voltou ao controle com seus desmandos e truculência.
A Expedição de Cabeza de Vaca embrenhou Mato Grosso adentro. Conheceu o PANTANAL. Era época de cheias e chuvas. Nunca viram tanta área alagada! Nem na Flórida. Álvar Nuñez e seus homens se cansaram de andarem encharcados, doentes, perdidos. Alimentos se perderam, animais e pessoas morreram. Decidiu retornar com o que restava do grupo. Febril e fraco, foi interceptado próximo a Assunção e preso por Irala, com uma série de acusações infundadas de traição à Coroa. Encarceirado, viu todo seu trabalho de reconstrução de um povoado digno ser desfeito, enquanto aguardava ser deportado para Espanha para julgamento.
Na viagem de volta, tempestade castigava o navio em alto mar. Os marinheiros supersticiosos achavam que isto era pelos maus tratos que Cabeza de Vaca estava sofrendo... Mandaram desacorrentá-lo da proa do navio, e imediatamente a tempestade parou, como que por milagre.
Veio prisioneiro em março de 1545, ficou em Sevilha de agosto a dezembro aguardando o início de seu julgamento, que se arrastou por longos anos. Nesse tempo escreveu um documento-livro, contando sua versão da história. No julgamento Ilara tinha enviado seus homens como testemunha de acusação, mas as possíveis testemunhas em defesa de Cabeza de Vaca não foram ouvidas, estavam na distante América do Sul. Em março de 1551 foi condenado a pagar uma pequena fortuna ao Tesouro Real, foi destituído do cargo de Adiantado e exilado para África, em Oran, Argélia, por alguns anos (uns quatro). Em 1555 publicou seu livro Comentários, escrito pelo relator da expedição e seu breve governo, Pedro Hernández.
Pouco se sabe sobre como terminou sua vida, há tantas incerteza sobre seus momentos finais quanto sobre seu nascimento. Alguns contam que se reabilitou e chegou a presidir o Conselho das Índias, em Madri, casado, bem sucedido e respeitado. Outros, que ele tornou-se prior num convento em Sevilha, e morreu (entre 1557 e 1564) miserável e na amargura de sucessivos fracassos em vida.
Em termos de empreitadas que se meteu, pode ser visto como um azarado e fracassado, pois não realizou nada do que quis, não encontrou riquezas, sofreu toda sorte de desgraças e comeu o pão que o diabo amassou. Mas é inegável seu mérito e reconhecimento pelo que aventurou, vivenciou e conheceu, e principalmente pela forma que sobrevivia e superava todas as provações que enfrentou.
Álvar Nuñez Cabeza de Vaca: Cristão, Soldado, Tesoureiro, Náufrago, Escravo, Curandeiro, Andarilho, Governador, Pacificador, Conquistador, Prisioneiro, Escritor, Presidente ou Religioso...
Um homem que exerceu ao longo da vida diversas atividades, passou por diversas atribulações, divinamente abençoado viveu muitas aventuras perigosas e fracassadas, foi sempre um sobrevivente e portanto um vitorioso apesar de parecer que não, percorreu a pé milhares quilômetros por terras desconhecidas e lidando com povos diferentes, caminhou e conheceu muito mais do que a maioria dos mortais de sua época ou da nossa, e em ambiente hostil e inexplorado...
Poucos realizaram e experimentaram tanto quanto ele. Marcou presença, época, fez História. Enfim, um talvez injustiçado e com certeza admirável desbravador!
domingo, 18 de abril de 2010
Desbravadores Admiráveis (3)
Cabeza de Vaca – Para a América do Sul
Pelos desertos norte-americanos que perambulou, Álvar Nuñes Cabeza de Vaca ouviu lendas de cidades douradas, e estes relatos ficaram famosos e atiçou a cobiça de outros tantos aventureiros. Ele mesmo pretendia regressar como "Adiantado" da Flórida, uma espécie de governador explorador das novas terras.
No caminho de volta ao velho mundo, o navio em que vinha foi salvo de piratas franceses por uma frota portuguesa que regressava da América do Sul.
Numa escala nas Ilhas de Açores, encontrou com Gonzalo de Acosta, um português que lhe trouxe novidades e histórias da América do Sul. Ficou assim sabendo que essa frota trazia de volta para a Espanha o primeiro Governador do Rio da Prata, Dom Pedro de Mendonza, que tinha abandonado o povoado de Buenos Aires adoentado (com sífilis) e que morreu pelo caminho antes dali chegar. E lá, o poder foi tomado na marra pelo truculento Domingo de Irala e seus homens.
Também ouviu a respeito dos relatos consistentes das várias tribos Guarani sobre um tal Rei Branco e sua Montanha de Prata, no interior da América do Sul, no sertão a noroeste, e de algumas expedições na tentativa de sua localização. Tanto que o Rio Solis (nome de um dos primeiros exploradores da região) passou a ser chamado de Rio de la Plata.
Enquanto Cabeza de Vaca estava na Espanha, frustrou-se quando soube que no início daquele ano de 1537 já haviam nomeado o Governador da Flórida, posto que almejava. Escreveu o livro Naufrágios em que narra sua extraordinária aventura pelo continente norte-americano, e tornou-se conhecido na Espanha.
Aproveitando-se do status nobre de sua família, sua fama (pelos relatos) e de sua vivência com os indígenas, convenceu o Conselho das Índias (mediante financimento da expedição e contrato de participação nos lucros) que ele era a pessoa certa a ser nomeado segundo Adelantado del Rio de la Plata, uma espécie de Vice-Rey da Argentina, Uruguai, Paraguai e grande parte do que é o interior do Brasil (do Rio Grande do Sul ao Mato Grosso!).
E para cá veio com sua comitiva em 1541 para assumir o cargo e disposto a empregar a primeira política de convivência harmônica e pacífica com os índios da região. Era uma nova fase em sua vida, mais madura e política, com a proposta de tirar proveito do respeito aos nativos, que sua experiência anterior mostrara ser possível e muito mais humana.
Cabeza de Vaca fez uma escala na Ilha de Santa Catarina (onde hoje fica a cidade Florianópolis), para abastecer seu navio numa pequena aldeia portuguesa que lá havia, antes de prosseguir até Buenos Aires. Foi na verdade uma looonga escala de 6 meses, esperando melhores ventos, clima e correntezas a favor, onde aproveitou para conhecer os índios Carijó da região e várias tribos Guarani, ouvindo suas histórias e aprendendo seus costumes a respeitar e seu idioma.
Nesse tempo também recebeu a notícia, por alguns sobreviventes fugidos por maus tratos de Domingo de Irala, de que o povoado de Buenos Aires tinha sido arrasado pelos vizinhos índios Querandi e que Irala, seus homens e outros sobreviventes tinham se refugiado em Ascensión (hoje Assunção, capital do Paraguai).
Então decidiu mudar a estratégia: em vez de seguir de caravela por mar e depois subir o Rio da Prata até Assunção, resolveu ir por terra (e a pé) com toda sua comitiva, atravessando todo o estado do Paraná, trajeto que levou 5 meses. Eu particularmente acho que o objetivo dele NÃO era mais confrontar Domingo de Irala... mas arrebanhar aliados nativos, e quem sabe, com sorte, descobrir e explorar a riqueza prateada.
Dizem que para essa travessia, Cabeza de Vaca se utilizou de um caminho hoje lendário, uma rede viária chamada Peabiru e que os Jesuítas chamavam de O Caminho de São Tomé (por causa do Pay Sumé, entidade mitológica indígena, branco de barbas longas, que os ensinou várias coisas, entre elas a agricultura, andava sobre as águas e por onde pisava não nascia mato).
Relatos contam que era uma estrada de uns 2 metros constantes de largura, dizem que pavimentada, senão bem demarcada, com vegetação rasteira e de altura constante nas bordas, que seguia do litoral para o interior. Foi muito utilizada depois pelos bandeirantes paulistas para prear (=caçar e apreender para escravidão) índios Guarani das Missões do Guaíra. Atualmente poucos vestígios incertos existem dela, perdida pelos avanços predatórios da civilização. Mas parece que na época de Cabeza de Vaca estava bem conservada e era bem conhecida.
Por este caminho, que possuia ramificações para São Vicente, Cananéia e Santa Catarina, Aleixo Garcia, partindo da Ilha de Santa Catarina em 1524, se embrenhou com grupo de índios em expedição e chegou até Potosi na Cordilheira dos Andes. Retornou, mas foi emboscado e morto no Paraguai por outros índios; porém, conseguiu enviar mensageiros de volta à ilha levando algumas peças ouro, prata e jóias.
Dicionários traduzem Peabiru como "caminho amassado" (do tupi-guarani, pe = caminho + abiru = gramado amassado) e até "o caminho cujo percurso se iniciou" (não sei de onde tiraram isto). Mas estou convencido que, por analogia com Tatuapé que quer dizer "caminho do tatu, por onde o tatu passa", Peabiru quer dizer "caminho do (= para o) Peru, por onde se passa para ir ao Peru", significado que passa desapercebido pelos tradutores do Tupi/Guarani. Aliás, o nome do país Peru não vem daquela ave homônima e também típica do continente (norte-)americano como se poderia pensar inocentemente a princípio; é originário da língua dos Incas, que chamavam seu país de Biru, e que os espanhóis entenderam e nomearam a região como sendo Peru.
Mais informação sobre Peabiru:
- http://www.historiabrasileira.com/brasil-pre-colonial/caminho-do-peabiru ou
- http://peabirucalunga.blogspot.com/
(e nos links que estes sites apresentam)
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segunda-feira, 12 de abril de 2010
Desbravadores Admiráveis (2)
Cabeza de Vaca - Origem e América do Norte
A família se tornou nobre quando um camponês encontrou uma passagem nas montanhas e sinalizou o local com o crânio de uma cabeça de vaca. Isto permitiu os exércitos de Castela, Aragão e Navarra avançarem (ou baterem em retirada), em 1212, e o reconhecimento real pela providencial contribuição durante a luta entre reinos cristãos e muçulmanos invasores na Península Ibérica.
Algumas incertezas quanto às datas e locais de seu nascimento e morte, mas podemos dizer que Álvar Nuñez Cabeza de Vaca nasceu em Sevilha (ou Jerez de la Frontera) no ano do descobrimento das Américas, em 1492.
Foi um jovem devoto católico e valoroso soldado: lutou na Itália e liderou a defesa heróica de um dos portais da cidade de Sevilha.
Em 1527, com 35 anos, Álvar Nuñez embarcou como tesoureiro numa expedição de Pánfilo de Narváez, com intuito de explorar a Flórida - entenda: trazer riquezas e escravizar índios nativos.
A frota espanhola de 5 navios e 600 homens sofreu vários naufrágios depois de atravessar o oceano Atlântico. Sobreviveu, foi escravizado pelos índios, passou fome, frio, tentou fugir várias vezes, teve outros naufrágios nas tentativas e caía escravo novamente. Acabou encontrando outros 3 sobreviventes da expedição original naufragada, em situação tão deplorável quanto à sua.
Depois de 3 anos assim, um golpe de sorte (ou de fé) mudou sua condição. Sua oração "curou" um índio desenganado pelo pajé curandeiro da tribo. Isto se repetiu outras vezes e, segundo conta, ganhou admiração e respeito dos índios, de diferentes tribos.
Iniciou uma perigrinação rumo ao oeste, nu e descalço. Foi o primeiro homem branco a atravessar o Rio Grande (nos EUA) até chegar na costa do Pacífico. De lá rumou para sul/sudeste. Nesse trajeto, a fama o precedia, e por onde ia, passava a ser seguido por centenas, milhares de nativos.
Em meio à insanidade, loucura, excesso de fé e pajelância ou xamantistmo, este peregrino perdido e determinado percorreu ao longo de 10 anos mais de 18 mil quilômetros a pé, até chegar à Cidade do México, nessa altura já conquistada e colonizada por espanhóis, para finalmente ser resgatado com seus 3 amigos pela civilização que conhecia. Regressou à Espanha e recuperou-se.
Não pense que a história dele terminou por aqui. Isto foi só o primeiro capítulo. (rsrs)
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sábado, 10 de abril de 2010
Desbravadores Admiráveis (1)
Desbravadores Admiráveis
A história da descoberta e conquista do Novo Mundo é muitas vezes mal contada. Sabe-se muito mais das versões (história oficial) do que dos factos (verdadeiros).
Nos tempos atuais, com aviões, internet, comunicação por satélites e "gugolmépis" (= google maps), o mundo parece pequeno e compreensivo, amplamente detalhado nas dimensões, contornos, relevo, clima e vegetação.
Mas no início do Século XVI (entre 1500 e 1600) os cantos do planeta eram desconhecidos e iam sendo mapeados à medida que a Terra ia sendo explorada, e conforme a visão e relatos de poucos homens.
De resto, a fantasia e o imaginário desenhavam o contorno e ambiente dos novos continentes em que se aventurava.
Ainda hoje existem lugares inexplorados ou pouco conhecidos. Mas antes, tudo era novo nas Américas, para os europeus. Muitos vinham em busca de riquezas sem fim, na esperança de encontrar o paraíso dos prazeres.
E quando cá chegavam, davam de encontro com matas e clima pouco hospitaleiros, culturas diversas e muitas vezes incompreensíveis e incompreendidas, e retrucavam com a violência e truculência que sabiam ou com a ganância do poder que os guiavam.
Deixando as motivações e razões à parte, alguns buscaram aqui um mundo realmente novo para abraçar, viver e morrer. E poucos foram os que ousaram e conseguiram êxito.
Estes sobreviventes exploradores eram bravos, nos dois sentidos da palavra:
- pela bravura e valor, com se lançavam nas aventuras mais improváveis e cheias de riscos, e
- pela rudeza e sisudez, com que enfrentavam as imprevisíveis adversidades por que passavam.
Estes foram os pioneiros, os bandeirantes, os exploradores, os bravos desbravadores.
E dentre esses bravos desbravadores, há um cuja história e aventura me impressiona muito. Admiro Álvar Nuñez Cabeza de Vaca.
Irei fazer um resumo de sua impressionante aventura nos próximos posts. Quem gostar e quiser ir mais a fundo nos detalhes e ter sua própria opinião, há dois livros editados em português que dão uma boa e ampla visão, além de um filme mexicano antigo (1991) que encena seu primeiro contato nas Américas:
- Naufrágios e Comentários, da série Os Conquistadores, Editora LP&M, 1987, do livro do próprio Álvar Nuñez e tradução de Jurandir Soares dos Santos.
- Cabeza de Vaca, da Editora Companhia das Letras, 2009, de Paulo Markun
[ ... Continua ... ]