E, tendo refletido e
concordado com Clarice Lispector,
diz o Inspetor da Clareira:
"Em resumo,
vestimos a armadura de nossas fantasias
para enfrentar a crueza da realidade.
Com isto,
temos sido o que não somos,
não tiramos partido do que repartimos,
temos feito o que nem queremos,
simplesmente porque aprendemos,
pelos outros, o que devemos ser,
e duvidamos de aprender, por nós,
o que precisamos ser simplesmente.
Alguns breves lampejos de lucidez
não são suficientes
para quebrar o paradigma,
e trazer a vida de volta
para dentro de nossas vidas...
E nessa loucura seguimos sonhando
entre uma felicidade e outra,
fazendo disto nossa existência."
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Teimosias
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Relevo, ferida da terra
A ferida existe
porque a carne sente.
Aferida é a mente
porque insiste...
Um raro arrepio sem pio.
Imagem tem horas?
E má gente, senhoras?
Afinada, adoçada,
diurna melodia
de urna mela o dia.
Como o relevo da Terra,
entre alto e baixo,
onde vale o vale
e monta a ponta,
releva golpes e feridas,
e eleva almas e vidas,
acho que isto encerra
com a questão! (ou não?)
Bônus
Estime altos e baixos em
Eugênia versus Eu mudo
http://mesdre.blogspot.com/2009/03/eugenia-versus-eu-mudo.html
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Lendas e Sendas = lendo pra trás e pra frente
sábado, 13 de agosto de 2011
Farol
Nossa! O que aconteceu? Por que se fechou? O que se passa? Como posso ajudar para que sua chama não se apague? Preciso da sua luz no meu caminho!
Quando você se ofusca, é como um farol sobre o rochedo que deixa de ficar aceso durante a noite. Mesmo nas noites claras de lua cheia, ele avisa que por ali há recifes e bancos de areia, ventos fortes que empurram embarcações contra o penhasco. Enfim, alertam aos navegadores atentos para evitaram o perigo, ou para atraí-los ao bom caminho.
Pessoas assim como você são referência para muitos de nós. Mesmo que eu não me aporte por perto, é mais seguro e tranqüilizador saber que o farol está lá, cumprindo seu papel.
E quem olha de longe, de fora, até imagina, mas nunca pensa ou lembra que no farol habita gente como a gente, que o mantém funcionando para nos ajudar, trocam a lâmpada quando esta queima, abastecem o motor que permite a luz girar e avisar a todos por todos os lados. Faróis contém gente, que têm vida própria e seus problemas pessoais.
E se um dia o farol falhar e não acender, todos sabem xingar, esbravejar, reclamar e lamentar... Quem considera que o faroleiro possa ter morrido ou ficado incapacitado, doente, impedido por incontáveis motivos?
O farol nos faz falta. Ele é nossa referência. Precisamos de referências para nos orientar ou nos dar parâmetros de forma que saibamos o que fazer, como agir e para onde se dirigir. E referências - podem ser boas ou ruins -, são importantes. Mesmo as más referências nos ensinam como não fazer uma próxima vez, se houver oportunidade.
( foto tirada e cedida pelo genial e talentoso tossan, do blog klic tossan )
No Judô, prática marcial regrada para ser competição saudável, onde prevalece muito mais filosofia, disciplina e técnica do que força, o oponente é chamado de Tori, e não de adversário.
Ao Tori sempre reverenciamos e nos curvamos, ao iniciar e ao terminar a luta, quer tenhamos ganhado ou perdido. Porque na derrota devemos reconhecer humildemente seu valor mais competente; e agradecer por nos mostrar onde erramos e onde podemos melhorar. E na vitória lhe damos graças porque sem ele, ela não seria possível; e quanto melhor o Tori, mais grandioso nosso triunfo!
Assim também são as pessoas-faróis que encontramos pela vida. São nossas referências, influências positivas ou negativas para nós, as quais devemos nos ressentir quando nos faltam.
Que sua luz nos ilumine sempre nossos caminhos, você, querido "farol"!
Feliz Dia dos Pais!
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
O fim do mundo perdido
"Aonde vai parar este mundo?
Se esta é a questão que incomoda,
quando tudo desanda, lembre-se que
a Terra não pára, ela gira e assim seguirá...
a gente pára antes!
A morte encerra e, com sorte,
algum forte enterra."
Mesdre
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Duas festas em uma ou nenhuma
Salão aberto. Preparativos começam. Gente chegando e se acomodando. Todos parentes.
O som personalizado do telefone toca, avisando a chegada de nova mensagem de texto.
A tia, dona do celular, procura-o ansiosa, pois aguardava notícias de seu namorado.
O celular estava nas mãos do sobrinho, que jogava algum game disponível ou navegava pela internet.
A mensagem que chega estampa na tela, e o rapazinho inocentemente se levanta e leva o telefone à tia, já prontamente anunciando a mensagem:
- Ele diz que não poderá vir!
Ela, ou decepcionada ou nervosa, arranca-lhe o aparelho da mão e dá uma bronca pública, que ela não o havia autorizado a isto:
- Nunca mais faça isto! Eu não deixei você pegar...
Na verdade, sempre que possivel ele pedia e ela cedia o celular para ele explorar e brincar... nunca falou em restrições...
Neste dia, certo que houve alguma liberalidade, mas a regra era outra, mas ninguém estava avisado.
O clima ficou tenso...
O contrangimento de se ler uma mensagem pessoal, mesmo que nada revelador, em voz alta, era uma pequena afronta.
A mãe, num canto, se ressentiu também da aspereza inédita da irmã para com seu filho.
No ar, a bronca ao jovem parecia mais uma indireta à mãe, que "evidentemente" não dava a devida educação ao seu filho.
Foi só um deslize, um vacilo, que incomodou, porque no fundo era um rapaz muito bom e atencioso.
Mas era dia de festa, tudo ficou por isto mesmo. Ou quase.
O almoço iria ser servido, e durante a distribuição pela mesa dos apetrechos de pratos, copos e talheres descartáveis, vem outra pergunta inocente...
A tia quer saber:
- Avisou nosso irmão?
- Sim, respondeu a mãe.
- E ele vem?, insistiu a tia.
- Não sei, respondeu sinceramente a mãe... como poderia saber, o que ele faria, que imprevistos teria?
- Como assim: não sabe?, indignou-se a tia, elevando o tom da voz.
- Não sei, repetiu a mãe, procurando manter a calma e na defensiva, como uma leoa já ferida (e mordida pela bronca indireta em seu filho e "escandalosamente" pública)...
- Como eu iria saber? Eu não sei.
- Nossa! Não precisa ficar responder assim, nervosa! O que você tem?, ainda mais alto, para que todos presentes ouvissem e se envolvessem também.
Daí o marido intervém, vendo que a cunhada não iria aceitar aquela resposta como possível.
- Ela não pode saber, porque fui EU que falei com ele! Eu avisei-lhe do almoço e ele respondeu: 'Tá bom'. Foi o que contei a ela, exatamente isto. Não sabemos se ele virá ou não, esperamos que sim.
Ela percebe que não obterá a resposta que queria (confirmado, sim ou não?), e sem graça com a situação e as faíscas no ar, deixa escapar:
- Desculpas, por achar que ela é quem tinha falado com ele. Eu não sabia....
Mas daí o caldo já havia entornado.
A mulher se retira imediatamente da sala, enquanto as coisas ao seu alcance ainda estão inteiras.
O marido a segue, para levá-la de volta à casa, para ver se relaxa um pouco.
Os que ficaram para trás, ficam sem entender muito bem o que havia se passado.
O fato é que nunca se sabe exatamente o que se passa no íntimo de cada pessoa.
A falta de imaginação, de reconhecimento e de se colocar na pele do outro, leva a distorções da percepção.
Quando os nervos estão exaltados, tudo se exacerba.
Um copo nunca transborda por causa da última gota, mas porque chegou a ficar cheio!
O ápice da desavença já vinha acumulando detalhes menores que serviram de ingredientes para eclodir naquela hora.
Numa festa que não era para acontecer.
Um dos aniversariantes nem queria a festa, nem chegou a ser consultado; queria viajar, ia ser bom para a família.
Imprevistos obrigaram a cancelar a viagem, e tiveram que ficar na cidade naquele final de semana.
E ao saber disto, a tia logo inventa de "organizar" a festa que esta queria, mas que não haveria se fosse só para um aniversariante.
Em vez de fazer tudo, pensar no cardápio, chamar as pessoas e confirmar a presença, etc, cedeu o salão e ofereceu para repartir o (custo do) bolo.
O trabalhão maior, de pensar no que fazer, de fazer as compras do que faltava, de ficar até tarde cozinhando, além de todas as outras coisas por fazer, preparando um almoço, sobrou justamente para quem não queria se ocupar disto desta vez. Sempre sobrava pra ela. Ninguém fazia por ela.
Mesmo assim, fez. Porque afinal, o marido era dela e a mãe também.
Ele reconhecia esta sobrecarga, concordava com esta percepção, não queria a festa, também queria viajar, não puderam.
Insistiu para ela dizer não e não.
Mas o segundo argumento era forte demais para ser perdoável pelo resto da família: sua mãe!
O problema é que a mãe era das duas, e o trabalho ficou para quem não tinha planejado isto, enquanto quem queria ficou com a parte "mais fácil": cobrar. Isto é combustível suficiente para um estopim, quando juntam tantos outros fatores externos e variáveis fora deste contexto.
Mas isto, este drama interno, só sente que o vive.
Para quem vê de fora, as pequenas e mínimas pontas aparentes escondem o bloco maior do iceberg submerso.
Titanic afundou assim... Batendo de frente, ou quase, com um iceberg: o gigante gelado que acorda e "explode" desencadeando eventos.
E por ignorar o perigo, todos afundam juntos.
Resta prosseguir com a festa, e cantar os parabéns...
Porque a superfície calma e turva esconde os monstros submarinos que habitam nosso mar interior.
Melhor é navegar em silêncio, para não provocar mais ainda os humores inflamáveis, como as velas do bolo.
E cantar seguro, que ajuda a espantar os males.
Então:
Parabéns pra você, nesta data, querida!
Feliz ano novo!
Todo dia é dia de celebrar, com ou sem festas.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Sinto muito
"O sentido tem duplo significado:
o de ir e vir, à direita e à esquerda, positivo e negativo.
Os sentimentos das pessoas têm várias intensidades:
o senso do quão intenso é muito pessoal.
E sentimentos também têm duas vias:
o de dar e receber.
A gente diz que 'sente muito',
quando, no fundo, sentiu pouco!"
Mesdre