sexta-feira, 28 de agosto de 2009

in Substituíveis


Recebi por email uma historinha dessas motivacionais (não sei quem é o autor), seguida de uma reflexão mais aprofundada, baseada nos argumentos da história. Eis o texto, ao qual depois tecerei meus comentários.


Será mesmo que você é substituível?

"Na sala de reunião de uma multinacional o diretor nervoso fala com sua equipe de gestores. Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um ameaça: 'ninguém é insubstituível'.

A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio.

Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada.

De repente um braço se levanta e o diretor se prepara para triturar o atrevido:

- Alguma pergunta?

- Tenho sim. E o Beethoven?

- Como? - O encara o gestor confuso.

- O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu o Beethoven?

Silêncio.

Ouvi essa estória esses dias contados por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso...

Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos, mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças dentro da organização e que, quando sai um, é só encontrar outro para por no lugar.

Quem substitui Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Albert Einstein? Picasso? Zico?

Todos esses talentos marcaram a História fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem, ou seja, fizeram seu talento brilhar. E, portanto, são sim INsubstituíveis.

Cada ser humano tem sua contribuição a dar e seu talento direcionado para alguma coisa. Está na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe focando no brilho de seus pontos fortes e não utilizando energia em reparar 'seus gaps'.

Ninguém lembra e nem quer saber se Beethoven era surdo, se Picasso era instável, Caymmi preguiçoso, Kennedy egocêntrico, Elvis obsessivo... O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos.

Cabe aos líderes de sua organização mudar o olhar sobre a equipe e voltar seus esforços em descobrir os pontos fortes de cada membro. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.

Se seu gerente/coordenador, ainda está focado em 'melhorar as fraquezas' de sua equipe, corre o risco de ser aquele tipo de líder que barraria Garrincha por ter as pernas tortas, Albert Einstein por ter notas baixas na escola, Beethoven por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria perdido todos esses talentos.

Quando o Zacarias dos Trapalhões faleceu, ao iniciar o programa seguinte, o Dedé entrou em cena e falou mais ou menos assim:
- Estamos todos muitos tristes com a partida de nosso irmão Zacarias... e hoje, para substituí-lo, chamamos:.. 'Ninguém'... pois nosso Zaca é insubstituível.

Portanto nunca esqueça: Você é um talento único... Com toda certeza ninguém te substituirá!"


Eu tenho minhas ressalvas quanto às duas posições.

Dentro de uma empresa, com um conjunto de funcionários, somos todos substituíveis sim, facilmente... Não quer dizer por iguais, talvez uns piores, mas muitas vezes por até melhores (ficamos desatualizados, velhos, cansados, e outros cheios de gana e vontade para ocupar a nossa vaga, a preços menores, pelo menos inicialmente).

Mesmo os citados como insubstituíveis acabam sendo, a seu modo, e relativamente, por outros. Exemplo: Galileu era o ó-do-borogodó! Veio Newton e o desbancou. E este perdeu a banca para Einstein... por enquanto.

Zico, Pelé, Garrincha foram outros ícones e gigantes de seus tempos em campo, mas o tempo passou, e outros ocuparam seus postos... (principalmente porque time é quase como uma empresa) Com seu brilho? Não, certamente. Mas eles admiram Ronaldos, Kaká, Messe, Maradona, Zidane e outros, de tempos depois.

Nas empresas, somos números. Passamos, e elas continuam. Ou são vendidas, falidas, não importa. Somos menos que elas. Muitas empresas têm a cara de seu dono-presidente. Enquanto ele estiver lá, elas são o que são.

Mas concordo que somos únicos! Que temos nossa função, que nos cabe e que faremos da nossa forma, que outros não fariam.

A maioria dos exemplos citados são "pessoas-estrelas", astros em carreira solo, senão assediados e acercados por muitos assessores, parceiros, empresários, advogados, conselheiros... Destacaram dentre outros, pelos seus méritos e características excedentes.

Concordo com a incorporação da idéia de que nossas atitudes podem mudar o mundo, fazer história, deixar sua marca, pro bem ou pro mal.

E que não devemos deixar outros destruírem nossos sonhos. Se nos convencerem que nosso sonho é em vão ou muito irreal, termos a liberdade de sonhar de novo, outros e melhores sonhos!

Acreditar em si é o primeiro passo. Mesmo que muitos marchem ao contrário...


Por falar em substituição e substitutos, agora pra descontrair, minha mãe conta que quando começou a lecionar, houve na capital Belo Horizonte uma reunião estadual de professores, que contou com a presença de
Juscelino Kubitscheck, respeitável Presidente da República, que na época era Governador do Estado de Minas Gerais.

Havia uma "professora substituta, do interior", que estava muito tímida sentada num canto da sala. J.K. ao vê-la, foi na direção dela cumprimentar (como fez com várias outras), e ela ficou mais nervosa ainda, e se apresentou deste jeito, meio que gagejando:

- E-eu? E-eu s-sou pro...stitutadointerior...


3 comentários:

Zainer Araujo disse...

Tenho questionado muitas coisas, uma delas é sobre o que é esse tal de "talento".

Eu vejo uma empresa como sendo um sistema, talvez por isso somos chamados de recursos e facilmente substituitos. Pra empresa a diferença se faz nos números.

Apesar de estrelas, todos na verdade foram o que foram primeiro por conta dos números que geraram ou poderiam gerar. Sempre alguem ou uma organização por trás atento para algum ganho.

Estrelas famosas ou não acho que somos insubstituiveis. A melhores pessoas que conheço ou conheci na vida, no trabalho, no lazer foram sem dúvida importantes no cenário profissional que atuaram ou atuam mas imprescindíveis e insubstituiveis em minha vida e certamente na vida de outras pessoas.

Agora vou mudar o foco. Voce mexeu com um dos meus herois. Galileu.

Eisntein e Newton só foram o que foram por causa de Galileu....hummm...vou parar por aqui e responder isso em um post no meu blog de vinhos. Obrigado pela ideia :)))

Hugo de Oliveira disse...

Opa...gostei muito do seu blog...viu, por isso já sou um seguidor.

Vou te linkar aos meus favoritos.


abraços

Hugo

Evelyne disse...

Acho que vc não conseguiu captar o espírito da coisa.
Ninguém SUBSTITUIU Bethoven. Ninguém fez O QUE ele fez NO LUGAR DELE...
Claro, vieram outros e cada um fez o que sabia fazer melhor, mas cada um foi único! Ninguem foi, jamais, apresentado como: "Respeitável público, esqueçam Bethoven. Eis aqui Bethoven 2!" (ou Zé Mané, tanto faz)
A mensagem é: outras pessoas podem fazer seu trabalho, mas nenhuma o fará como VOCÊ. Este é seu talento.
E mais importante ainda: a mensagem diz que faz mal às empresas e às PESSOAS que trabalham nela esse foco obssessivo nos pontos fracos, ao invés de fortalecer os pontos em que cada pessoa é forte.
Por exemplo: se um funcionário é anti-social, mas excelente em números, deixe ele cuidar dos números e arrume outro, com facilidade de relações interpessoais lidar com as apresentações. Cada um cuida daquilo que é bom, sem tentar ter que ser bom em tudo.
Tenho uns artigos em inglês que falam bem disso. Se eu achar eu copio e te mando.

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